Há seis anos Marli Souza aceitou o desafio de se desafiar. Na Maratona do Rio ela vai escrever mais um capítulo desta história

Há seis anos Marli Souza aceitou o desafio de se desafiar. Na Maratona do Rio ela vai escrever mais um capítulo desta história

18 de junho de 2019 4 Por Paulo Prudente

Já parou para pensar quantas histórias estão envolvidas numa maratona? Que tal fazer este exercício domingo na Maratona do Rio? Milhares de histórias vão se cruzar pelas ruas do Rio, sobretudo no pórtico de chegada, no Aterro do Flamengo. Muitos vão começar a escrever mais um capítulo da sua trajetória de maratonista já na véspera, quando correrem, no sábado, a meia, na primeira parte do Desafio Cidade Maravilhosa. Serão 63 quilômetros em dois dias.

Histórias como a da comerciante Marli Souza, de 42 anos, atleta da MP RUN. Apaixonada pela longa distância, ela vai aproveitar o fim de semana, as duas provas, para fazer algo que começou há quase seis anos e que hoje ocupa um lugar importante em sua vida. Confira!

O COMEÇO

“Até agosto de 2013 eu ainda não havia ouvido falar em corrida de rua. Naquela época eu dividia personal com uma amiga, que me falou sobre a Etapa Tiradentes do Circuito Rio Antigo. Ela me convidou e insistiu muito para que participasse. Eu achava que não conseguiria correr nada, por que o máximo que eu corria era na esteira como aquecimento para a musculação.

Rio Antigo, em 2013

Mas incentivada por ela e pelo personal, acabei indo. E foi amor à primeira vista. Sentir aquela sensação de liberdade, o vento batendo no rosto, o clima ameno do inverno e as ruas do centro do Rio, aquela arquitetura… Simples fiquei apaixonada. Corri meus primeiros 5K em 39 minutos.

Com o tempo comecei a melhorar nos 5K, ainda treinando apenas com o personal. Fui baixando o tempo até conhecer o Nike Run Club (NRC), em maio de 2015. Aí, com os exercícios educativos, eu comecei a conhecer um pouco mais a corrida, o que fez surgir o interesse em aumentar a distância. Em agosto de 2015 fiz a primeira prova de 10K.

Depois disso, ainda no NRC, vendo o pessoal falar de meia maratona, eu achava que eu jamais conseguiria correr 21 quilômetros. Aquilo não era pra mim. Mas no fim de 2015 eu me inscrevi para a minha primeira meia, que seria junto com a maratona.

No início de 2016 começou aquela movimentação da Nike Women Victory Tour. Treinei e fiz a minha primeira prova de 21 quilômetros no dia 10 de abril de 2016. Ali eu percebi que da primeira prova, em 2013, até aquela a primeira meia já houve uma evolução. Em 2016 também fiz a meia junto com a maratona. Lembro que no fim desta prova, olhei para a Alessandra Porto, parceira de corrida e amiga, que conheci em 2014, e perguntei: ‘o que vamos fazer agora, a maratona?’ Nos inscrevemos e no início de 2017 ela sugeriu que procurássemos uma assessoria de corrida. Sozinhas não conseguiríamos.

 A PRIMEIRA MARATONA

Então ela começou a pesquisar e chegou na MP RUN. Fui com ela conhecer e adorei. Até então eu não sabia como funcionava uma assessoria esportiva. Entramos na MP, fizemos o primeiro treino e conversamos com o Márcio (Pierri, treinador), que nosso objetivo era terminar bem a maratona bem. Lembro que eu dizia a ele que queria voltar para casa dirigindo depois da prova.

Primeira maratona, em 2017

Terminamos muito bem. Estávamos bem treinadas e com acompanhamento de nutricionista, musculação… Mas fundamental mesmo foi toda a experiência e o treinamento com o Márcio.

E lá se foi a primeira maratona. Um marco! Naquele momento nem passava pela minha cabeça fazer uma ultra. Então lançaram o Desafio Cidade Maravilhosa de 2018. Eu e Alessandra nos olhamos: ‘e ai, vamos fazer?’ Perguntamos ao Márcio e ele disse que só estava nos esperando confirmar. Então nos inscrevemos no desafio.

DEPOIS DOS 50K

Durante a fase de treinos, o Márcio perguntou se eu topava fazer uma ultra, a XC RUN Itaipava. Ele disse que já havia feito a prova em dupla e que aproveitou para acompanhar uma atleta que queria fazer solo os 50K.

Naquela brincadeira de vai ou não vai…eu acabei topando o desafio. É uma prova extremamente difícil, mas eu fui bem treinada e acho que fiz uma boa prova.

50K em Itaipava

Fazer uma ultra 50K me mudou. Sempre fui muito disciplinada, sempre treinei e foquei em cada objetivo. Só que quando você faz uma ultra, passa a entender a importância do fortalecimento muscular, da alimentação, da disciplina, de cumprir à risca cada treino, de se entregar.  Fiz muitos treinos com o Márcio que tinham hora para começar, mas não tinham hora para acabar. O objetivo é muito grande. Não são 5K, são 50! E não se entra numa ultra para brincar. Testamos alimentação, tênis, equipamento. É algo muito mais sério!

TRABALHO E FAMÍLIA

Tenho a facilidade de trabalhar com meu marido numa empresa própria e assim tenho mais flexibilidade de horário.  Mas conciliar com a família é o pior, por que meu marido sempre me cobrou muito o tempo que eu não passava com ele, mas sempre entendeu o bem que a corrida me faz. Ela me ajuda com o humor, me ajudou muito em setembro de 2017, quando meu filho mais velho foi morar em Portugal. A corrida e os objetivos que tracei para 2018 me ajudaram muito a lidar com a saudade. E meu marido, por mais que sentisse minha falta e quisesse minha presença, sabia que a corrida era uma maneira de suportar e de lidar com as tarefas de casa. Há cobrança, mas ele entende.

Este ano tem sido bem agitado. Estou há um ano e nove meses longe do meu filho mais velho, o filho do meio está casando e a caçula fez 18 anos. A corrida tem me dado um suporte grande para lidar com a carga emocional de ver três filhos saindo do ninho. É complicado por que ao mesmo tempo em que precisamos deixá-los ir, fica aquele vazio.

OS 21K

Eu gosto de corridas de 10K e adoro as meias. Mas não me vejo mais em provas de 5K. É um ritmo diferente, que não curto. Recentemente corri a Meia do Porto, que foi para mim uma prova extremamente desafiadora, embora já tivesse feito várias meias e até uma ultra. Tenho fobia de lugares fechados e me inscrevi nesta prova para vencer este

A primeira meia na Nike Women Victory

desafio. Vencer o Túnel Marcello Alencar. Eu já treinei passando por túneis e na maratona também passei, mas foram trechos curtos. Quando entro em túneis assim elimino tudo à minha volta e vou no meu limite, bem rápido por causa da fobia. Mas dessa vez eu não podia dar um tiro. Precisava manter o meu pace, que não é baixo, e não apavorar.

Em outubro de 2018 fiz uma cirurgia e parei por um mês. Depois vieram as festas de fim de ano e eu engordei. Quando retornei em 2019 eu me sentia pesada e amedrontada com relação a correr longas distâncias. E a Meia do Porto me acordou, por que foi a primeira prova que encarei com foco. E me saí muito bem.

Já a WTR Arraial do Cabo foi boa por que retomei a confiança. Por tudo o que aconteceu não estava mais acreditando no meu potencial. No inicio do ano tive que fazer outra intervenção e fiquei 10 dias parada. Achava que não conseguiria fazer a Maratona do Rio por coisas que pensamos que só nos prejudicam. A WTR me deixou animada para o Desafio Cidade Maravilhosa e também para a Mizuno Uphill. Até a largada eu acreditava que eu não ia terminar. Fui, baixei meu tempo e terminei bem a prova.

A LONGA DISTÂNCIA

Hoje eu sinto um prazer muito grande em correr longas distâncias. Se tenho que fazer um treino de 6K eu vou lá e faço por que sei que ele vai me levar a uma prova de 15 ou 21K. Mas na corrida longa eu dou uma desligada do que tenho que fazer em casa, da saudade do filho… Ali sou só eu correndo, ouvindo música. Gosto de correr ouvindo louvores. É um dos momentos em que me sinto em sintonia com Deus. É isso mesmo, quando estou correndo uma longa distancia ouvindo os meus louvores é quando mais me sinto em sintonia com Deus.

DESAFIO CIDADE MARAVILHOSA

Marli, Alessandra e Márcio Pierri

Espero que eu termine tão bem quanto terminei no ano passado. Se eu conseguir baixar tempo na maratona, como no ano passado, ótimo. Aliás, fui para maratona no ano passado sem muita pretensão e melhorou em 20 minutos o meu tempo na distância.

Se desafiar é muito bom e estar com a equipe é uma energia muito grande. A MP RUN é uma família. Sou muito calada e reservada. Tímida! Não sou muito de ficar firulando com todo mundo, mas eu fico tão feliz com o resultado dos outros da equipe. É emocionante ver a reação de cada um quando completa o objetivo. Quando você vê a evolução dos companheiros de equipe… E há aqueles que são seus amigos. É uma emoção muito grande.

OS PLANOS

Meus planos são continuar correndo. Depois do Desafio tenho duas provas como alvo. Os 25K da Mizuno Uphill e os 42 K da XC Búzios. Ano passado não consegui fazer esta prova por causa da cirurgia. O Márcio disse que vou gostar muito desta prova e estou curiosa em fazer.

Tenho vontade de fazer outras ultras e aumentar a distância pouquinho. Talvez uma de 65K em 2020. Enquanto amadurecemos a ideia eu me mantenho correndo. É a paixão pela longa distância. Aliás, 15 quilômetros já são suficientes para eu conversar um pouquinho com Deus.

A MP RUN

Não me vejo traçando um objetivo ou caminhando para um alvo sem estar na MP. Não me imagino fazendo algo em relação à corrida sem estar dentro da MP assessorada pelo Márcio. Ele é fundamental em qualquer coisa que eu faça na corrida. O Márcio vai me aturar por muitos anos ainda (risos).”