Garantida no Mundial 70.3 em Nice, Ana Luiza sonha com o Mundial de IM em Kona

Garantida no Mundial 70.3 em Nice, Ana Luiza sonha com o Mundial de IM em Kona

2 de outubro de 2018 0 Por Paulo Prudente

“Uma longa história…” É assim que a engenheira carioca Ana Luiza de Oliveira, de 43 anos, começa a contar suas aventuras na corrida e no triathlon. No último domingo, Ana Luiza correu o Ironman 70.3 Rio e conquistou uma das vagas na categoria para o Mundial de 2019, que será disputado em Nice na França.

Nas provas, Ana Luiza leva o nome da Barcellos Sports, mas no dia-a-dia é atleta da VMEsportes, do experiente treinador Victor Marcelo Pereira, o Vitinho. Ela conta que na adolescência sua grande adversária era a balança.

“Sempre tive tendência a acumular gordura, podem acreditar! Vivia brigando com a balança quando era adolescente. Então comecei a correr com 16 anos para controlar o peso. Corria ouvindo música e nem sonhava que tinha talento para isso. Só fui ter um treinamento estruturado, com um treinador mesmo, quando eu já tinha uns 30 anos”, conta Ana Luiza.

E foi então que a engenheira se arriscou nas primeiras provas de corrida de rua. Segundo ela, foram várias de 5 e 10K até descobrir do que realmente gostava: de uma meia maratona.

“Fiz até uma maratona, a de Paris. Mas não curti muito essa distância. A prova foi uma delícia, mas os treinos eu não curti. Acho que não esperava e não sabia sofrer no esporte ainda”, confessa.

Mas foram os treinos para a maratona que fizeram Ana Luiza conhecer o treinador Vitinho e passar a flertar com o triathlon. A admiração pela modalidade e por Fernanda Keller, de quem sempre foi fã, também ajudaram a despertar o interesse.

“Os treinos para a maratona envolviam fazer crosstraining. Eu corria apenas três vezes por semana. Eram treinos muito intensos. E eu tinha que fazer pelo menos mais dois treinos aeróbicos que não fosse corrida. Então comecei a fazer spinning e natação. A ironia é que o spinning eu fazia com meu atual técnico. Ele me chamou pra fazer triathlon e eu não quis. Tinha medo de pedalar pelo risco de acidente”.

Ainda não era a hora do triathlon. No lugar da bike e da natação, Ana Luiza decidiu se arriscar no trail run, sempre em provas com distâncias próximas aos 21K. Sete anos depois, em 2015, já perto de completar 40 anos, ela percebeu que só a corrida não ia dar conta de manter o seu peso. Era preciso procurar outra atividade.

“Foi então que um amigo que treinava corrida comigo na academia me convenceu a pedalar e sugeriu que eu procurasse exatamente o meu professor de spinning pra dar os primeiros passos no ciclismo. Vitinho permanece como meu técnico até hoje. Mas eu comecei pela natação no mar, antes de comprar uma bike, que sempre é o passo de maior comprometimento com o triathlon. O bom é que me apaixonei pela natação. E mesmo sendo minha modalidade mais fraca, eu adoro!”.

Aos poucos Ana Luiza foi se habituando a treinar as três modalidades e ir aumentando a carga de treinos. Aproveitou as provas da Federação de Triathlon do Estado do Rio de Janeiro para ganhar experiência, força e condicionamento até chegar ao meio ironman.

“Acho meu técnico muito sábio. Ele foi paulatinamente aumentando a carga de treinos ao longo dos anos. Comecei na distância sprint e fiz todas as competições da Federação do Rio: aquathlon, duathlon e sprint triathlon. No ano seguinte estreei na distância olímpica e fiz também meu primeiro 70.3. Ainda não fiz um IM full, por que o Vitinho acredita que ainda tenho que evoluir um pouco na distância 70.3”.

E na mesma medida em que os treinos cresciam em volume e intensidade, também crescia em Ana Luiza o desejo de voar um pouco mais alto. Ir a um Mundial de 70.3 era uma possibilidade. A tentativa da vaga seria em Foz do Iguaçu, em 2017.

“Eu nunca tinha treinado tão pesado na minha vida! Nunca tinha sofrido tanto nos treinos. E o resultado saiu: ganhei a vaga pro Mundial de 2017, em Chattanooga nos EUA. Seria a prova mais marcante para mim. Três meses antes da prova, no auge da minha forma, eu sofri um acidente grave de bike. Não sabia se teria condições de competir. Quebrei clavícula. Conseguia fazer rolo e spinning de tipoia, mas só voltei a correr seis semanas antes da prova e nadar só um mês antes”, lembra a atleta.

Apesar dos imprevistos e da quebra no ritmo dos treinos, lá estaria Ana Luiza, alinhada para o seu primeiro Mundial de 70.3. A natação seria no Rio Tennessee, com água doce, correnteza e sem direito a usar wetsuit.

“Tudo o que eu queria era conseguir cumprir o tempo de corte – uma hora – da natação para conseguir seguir na competição. No dia da prova, a água estava mais fria, liberaram o wetsuit e fecharam a represa rio acima, o que amenizou a correnteza. Saí da água achando que era a última da minha categoria. Achei que não tivesse passado ninguém no pedal e então saí pra correr possuída. Não queria ser a última da categoria. No fim, fui a 22ª de 227 atletas. Além disso, o lugar era muito bonito e as pessoas torciam muito por nós com cartazes, música e gritos de incentivo! Foi espetacular!”, lembra Ana Luiza, que no Rio fez o seu 10º meio ironman.

Uma prova sofrida, com muito calor e mar agitado. Ana Luiza reconhece que sua performance não foi das melhores;

“Estava muito quente e eu sofri muito. Naturalmente a performance cai, mas a gente não aceita, briga até o fim. O mar estava com ondulações, mas pra falar a verdade eu gosto. Adoro nadar no mar e quando está agitado eu curto sentir a energia do oceano. Minha natação nunca é muito boa e naquela não foi das melhores, mas desafios me movem e sigo tentando melhorar. Tenho um amigo que diz que minha natação é ruim por justiça divina, afinal, eu fiz o 6º melhor pedal entre as mulheres e a 3ª melhor corrida. Fiquei muito feliz! Especialmente porque consegui meu objetivo de ser a campeã da minha categoria 40-44 e conseguir a vaga pro Mundial em Nice no ano que vem!”

O Mundial será a prova alvo de Ana Luiza em 2019. Depois de um período de descanso ela pretende retomar os treinos visando à prova. E como todo atleta amador, treinos, família e vida profissional devem estar em perfeita sintonia.

“Confesso que tenho muita sorte, porque tenho horário de trabalho razoavelmente flexível e meu marido me apoia incondicionalmente. Sem o apoio dele seria realmente muito difícil. Eu treino todos os dias. Parece pesado, mas juro que me divirto muito com os treinos. Mas pra aguentar tudo isso, tento manter a disciplina: dormir cedo, me alimentar bem”, conta a atleta.

Aliás dormir cedo é uma forma de alimentar um sonho: um dia estar no Mundial de Ironman, em Kona.

“Apesar de ter um certo medo com relação à carga de treinos pra isso, meu sonho é competir no Mundial de Ironman em Kona. Pronto falei! Agora deixou de ser só um pensamento no fundo da minha cabeça como era lá no início em relação ao triathlon”, completa Ana Luiza, que se orgulha de chegar onde chegou.p