A transformação autoral de Janice Portes

A transformação autoral de Janice Portes

27 de fevereiro de 2019 9 Por Paulo Prudente

Aos 41 anos, a gerente administrativa Janice Brandão Portes, do Rio de Janeiro, está perto de completar um ano de um marco em sua vida: uma cirurgia bariátrica. Um marco que provocou mudanças, que ela mesma foi buscar, com suor e lágrimas. Foco e disciplina que a cirurgia não deu, mas que ela foi buscar dentro de si. Confira o depoimento de Janice, que está treinando para sua primeira meia maratona.

“Pratico corrida há cerca de quatro anos. Atualmente eu treino todos os dias e gosto muito das provas de 10K. Mas este ano eu vou me desafiar um pouco mais. Vou correr os 21K da Rio City Half Marathon, que será a minha primeira vez nesta distância; e também pretendo realizar um sonho de adolescente: correr as 10 milhas da Garoto.

Mas nem sempre foi assim..

Há 14 anos frequento a mesma academia. Durante este tempo, sempre procurei me exercitar muito. Mas parecia não adiantar, já que eu não conseguia emagrecer o que eu planejava. Não atingia minhas metas.

Numa tentativa de melhorar isso, há três anos procurei o grupo ‘Força na Canela’, de corrida e funcional. Também não deu resultado. Então em janeiro de 2018 resolver uma cirurgia bariátrica. Todos foram contra por que achavam que com os exercícios eu conseguiria emagrecer. Mas já não era tão fácil assim.

Fiz cirurgia em 17 de abril. E perto de completar um ano posso dizer que muita coisa mudou. De cara a cirurgia me deu um estômago pequeno e um intestino que absorve menos. Mas a grande maioria das coisas que mudaram partiram de mim e não da cirurgia. Aliás, a cirurgia não é uma solução milagrosa e está longe de ser o caminho mais fácil, como eu cheguei a pensar!

Eu vou listar aqui algumas coisas que a cirurgia não me deu ou não mudou em mim:

A cirurgia não mudou meu paladar. Não me fez experimentar verduras e frutas que antes me davam de nojo. Não fez alface, pepino, couve e outros alimentos parecerem deliciosos. Aprender a comer novos alimentos dependeu de mim!

A cirurgia não me mostra o que meu corpo precisa e o que minha cabeça deseja. Escolher depende de mim!

A cirurgia não me acorda às 5h da manhã pra ir à academia. Não me faz sair do trabalho e ir correr ou ir para o funcional. Me mexer depende de mim!

A cirurgia não me faz seguir as recomendações do meu treinador Josemar, da equipe ‘Força na canela’. Eu é que decido seguir!

A cirurgia não me impede de consumir açúcar, fritura, alimentos gordurosos e artificiais. Resistir depende de mim!

A cirurgia não me faz respeitar os horários de alimentação e não leva potinhos com comidas para os lugares onde não há opções saudáveis. Isso depende de mim!

Enfim, a cirurgia me ajudou a emagrecer. Me ajudou a deixar de ser obesa e a ganhar muita qualidade de vida. Mas a cirurgia não me fez deixar de ser quem ou o que eu era, de pensar como gorda.

A cirurgia foi e continua sendo um marco na minha vida, mas ela não produziu um milagre em mim. As escolhas que eu preciso fazer diariamente são minhas, e não são fáceis.

Não colocar um mundo de comida dentro da boca não é natural pra mim. Requer esforço. Me empenho pra que isso se torne o mais tranquilo possível, mas não me iludo e me mantenho alerta sempre”.