Alex Alves e a incrível jornada até a vitória na Extremo Sul Ultramarathon

Alex Alves e a incrível jornada até a vitória na Extremo Sul Ultramarathon

19 de dezembro de 2018 3 Por Paulo Prudente

Alexsander Alves Pereira foi o grande campeão da Extremo Sul Ultramarathon 2018, prova de 226Km na Praia do Cassino, no Rio Grande do Sul. Confira seu depoimento e as belissimas fotos de Thiago Diz!

“Fim de ano chegando, inscrições da Extremo Sul Ultramarathon 2019 abrindo… E tudo vem à tona na memória… tudo não, a parte final de uma incrível jornada… incrível e longa. Começou em 2016, quando fiz a prova pela primeira vez e fui o penúltimo colocado.

Voltar no seguinte e fazer algo melhor era uma questão de honra. Voltei lá e fui o terceiro. E aquela prova mágica me conquistou de vez. A meta era voltar em 2018 e fazer o meu melhor. Pensar na vitória? Confesso que pensei… Viajei na ideia, mas uma prova longa como esta, com tantas variáveis, vamos para dar o nosso melhor. Se a vitória vier… E veio!

Foto de Thiago Diz

Mas essa edição foi muito diferente das outras duas edições.  E as variáveis já apareceram no meu treinamento. Na reta final… Levei um tombo treinando no asfalto um mês antes. Fiquei ralado e com dores por conta da pancada. Mas segui em frente.

E no último longão na areia senti uma lesão no joelho. Acho que ali a cabeça entrou no ‘modo prova’. Eu sabia que não teria vida fácil lá no sul. Então era como se a Extremo Sul já tivesse começado para mim.

Vamos pular a parte da viagem, retirada dos kits e ir direto ao que interessa… Veio a hora da largada e eu parti correndo na frente, entre os primeiros. Mas ventava muito. Um vento contra que me fez reduzir o ritmo e adotar uma postura mais conservadora. Estava em terceiro e meu objetivo era ficar próximo aos caras da frente. No km 35 eu ainda estava em terceiro e no km 40 fui ultrapassado. Mas estava tranquilo na minha estratégia.

Chegamos na base de apoio do km 60 e fazia muito calor. Cheguei meio ruim, com o joelho doendo, mas até ali sequer passou por minha cabeça a chance de não ir até o fim. Mas, com tanta prova pela frente, não há como negar que aquilo começou a minar o meu psicológico. E comecei a duvidar de que iria até o fim. Mas não estava difícil só para mim… e para minha surpresa fui me aproximando dos primeiros e passando, um a um! No km 80 eu já era o primeiro. Ganhei confiança e fortaleci a mente. Mas até a base de apoio do km 107 eu ainda segui pensando apenas em ficar entre os cinco primeiros.

Foto de Thiago Diz

A cabeça trabalhava como nunca. Ainda estava calor e as dores eram confortáveis. Pois é… dores confortáveis… Poucos entendem isso…

Mas eu estava ali vivendo um momento único, com qual sonhei algumas vezes. De caçador eu passei a ser caça em uma prova. Isso me fortaleceu e me fez encarar aquela pancadaria. Acho que as dores perceberam que não iam me derrubar e desapareceram. Cheguei na base do km 107 livre delas. Sem dores e com o tempo mais fresco… Cenário ideal! Mas na Extremo Sul não tem moleza. O calor, o vento e o frio se revezam para testar a gente.

A madrugada entrou e com ela veio o frio. Segui firme e cheguei na base do km 138 ainda na liderança. Mas vi que o segundo lugar me caçava de perto.

Confesso não saber até agora se ter ele na minha cola foi bom ou ruim para mim. Por que naquele momento, vencer já passara a ser um objetivo.

O trecho entre as bases do km 138 e do km 188 foi a pior parte. Muita areia fofa e um desgaste gigante. Mas eu já havia adaptado a passada e o joelho não doía. Mas a pisada um pouco diferente provocou dores nos pés. Mas naquele momento eu já havia aumentado um pouco a distância para o segundo colocado, o que me deu mais confiança.

Mas tudo muda muito rapidamente. Comecei a sentir calafrios e dores de cabeça por causa dos óculos. Ali em pensei em desistir. Estava extremamente sofrido e já não conseguia caminhar. Exatamente neste momento me deparo com uma menina do staff da prova. Ela diz que eu estou bem e que não devia desistir.  E o incentivo dela foi maior do que a dor. Passei a ver a areia fofa como uma aliada. Comecei a perceber que ela amortecia a pisada e aliviava a dor no pé.

Com a mente trabalhando a favor eu voltei para a prova. E com 10 minutos de vantagem para o segundo colocado, passei a caminhar mais forte. Mas eu estava muito debilitado e logo a dor ficou insuportável. Chorava de dor e quis ver qual era o meu limite até que fiquei preocupado com minha integridade. De ter um problema mais sério no pé. Fui até o km 209 e ali coloquei o pé na água gelada.

Apesar da imensa dor segui correndo, trotando, caminhando forte…  E o cara atrás de mim… Já era noite, por volta de 20h, e o vento gelado também soprava contra… De repente, um turbilhão de coisas começou a passar pela minha cabeça e tudo aquilo fez com que eu não sentisse mais nada. Eu só queria chegar!

Eu pensava ‘Estou liderando desde o km 80 e não vou morrer na praia, literalmente! Treinei duro, sofri até aqui e agora tenho que ganhar.

Segui pela praia procurando aquele farol já quase Uruguai. Chegando nele eu sabia que já ia conseguir ver as luzes da cidade. E foi assim, dali até a chegada, com o segundo na minha cola, eu só pensava em tudo o que havia passado até ali. Faltava apenas um trecho de asfalto, uns 500 metros de uma subidinha que parece a mais longa de nossas vidas.

Foto de Thiago Diz

Ali eu senti que não seria mais ultrapassado e comecei a sentir a emoção de vencer! A gratidão era estupidamente maior que a dor. Pensei na minha família, nas pessoas que apostarem em mim, nos amigos que treinaram comigo desde aquela primeira prova, nos meus treinadores… Ninguém é monstro sozinho (risos)…

Aquela chegada fez valer à pena os domingos de treino, os longões intermináveis… Valeu todo o sofrimento imposto pela prova… o calor, o vento, o frio, a solidão… Valeu viver intensamente tudo o que vivi para estar na Extremo Sul Ultramarathon!”